Crescer dói
O condicionamento natural, como costumo chamar, é sempre no sentido do menor esforço.
Nossas capacidades praticamente nunca são trabalhadas por inteiro porque, de certa forma, não é algo "natural" pra nossa estrutura física e mental.
Para ajudar (e muito) nesse sentido, parece que esse princípio é cada vez mais buscado pela humanidade. Uma sociedade que trabalha, não para o crescimento e evolução, mas sim para alcançar novas formas de necessitar se esforçar menos em praticamente tudo, ou seja, "facilitar" a vida.
Um erro muito grande que nossa mente costuma cometer nesse sentido é o de entender (muito convenientemente, diga-se de passagem) que tem que ser assim mesmo e querer buscar essa conveniência, essa diminuição de nós mesmos como um propósito de vida, muitas vezes, o paraíso da inanição, ignorância e abdicação do próprio poder. Portanto é natural que o ego queira fugir ao primeiro sinal de mudança e crescimento.
Nosso corpo e mente procuram sempre um conforto advindo de executar o menor esforço e de filtrar cada vez mais e mais eficientemente, os elementos da vida.
Na prática, isso quer dizer que a tendência "normal" da nossa vida é a de, a cada dia que passa, nos fixarmos mais e mais no que nossos sentidos mais próximos (cinco sentidos, prazeres imediatos...) nos apresentam e buscar fugir de qualquer possível luta contra a nossa "natureza primordial" e uma negação ao exercício do livre-arbítrio.
Obviamente, nossos sentidos físicos não são capazes de traduzir toda a realidade última do universo para nossa consciência, aliás isso seria algo completamente impossível por nosso próprio nível evolutivo, nossa capacidade é extremamente limitada e se levarmos essa forma de encarar a vida a diante estaremos "trabalhando" no sentido de nos limitarmos ainda mais.
Dessa forma iremos compreender cada vez mais o sentido das coisas (a ignorância é uma bênção), nos tornarmos mais sedentários (atrofiados), lutar cada vez menos com nossos desafios etc.
Precisamos compreender, racional e emocionalmente, que a vida deseja exatamente o contrário de nós, que busquemos mudar, vencer, ir além dos sentidos primários e enxergar o que está por trás de nossa própria cortina de entendimento. Alargar os filtros que regem nossas existências.
Uma borboleta precisa se esforçar até o limite de suas forças para rasgar o casulo que a protegeu pois se não o fizer não terá condições de voar depois. Ajudar uma borboleta a sair do casulo significa também matá-la.
Não podemos tirar o esforço de um atleta, músico, cientista, filho, amigo...
Todos precisam forçar a natureza a se expandir, dentro e fora de nós mesmos pois, de certa forma, a FRUTA PROIBIDA ESTÁ ALI PARA SER COLHIDA E EXPERIMENTADA.
A dor, esforço, angústia, desejo, prazer, amor, raiva, medo, alegria, sabedoria... são frutos de se viver e não importa o quanto caminhemos na evolução, também estaremos sempre na condição de uma borboleta que se esforça para deixar o mundo que a abrigou e protegeu pois sabe que algo muito mais maravilhoso está a sua espera.